segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O Lobo Enlouquecido

Scorcese exagerou um pouco.

O LOBO DE WALL STREET
(The Wolf of Wall Street; EUA 2013)
Dir.: Martin Scorcese
Com Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Kyle Chandler, Margot Robbie
3h00min - 18 Anos



Martin Scorcese é um mestre da sétima arte. E um mestre em retratar os vícios do homem na tela grande.

Dito isso, as três horas de "O Lobo de Wall Street", pode ser de grande alívio, quando se percebe que Scorcese, com esse filme, volta para o seu cinema "clássico". Suas histórias costumam a mostrar um mundo onde o homem não tem limites, onde a cobiça dita o caminho a seguir e que nada será obstáculo para o Nirvana. Seja ele como for.

Vimos isso em Cassino. E principalmente em "Os Bons Companheiros". Uma ascensão gradual, por parte de um protagonista ávido, altamente cativante e inteligente e os seus meandros para chegar em seu objetivo. E depois de determinado tempo, a rotina do objetivo alcançado, querer sempre mais, torna-se a ruína, e a consequente queda. É uma receita conhecida, que em boas mãos, tornam-se bons filmes.

Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio, na melhor atuação de sua carreira) trilha este caminho. Vai de um aspirante a especulador da bolsa de valores a multimilionário, graças à sua lábia e à influência de Mark Hanna (Matthew McCounaghey - numa participação breve e essencial para a trama). Sua vida de altos exageros chama a atenção dos federais, 


"Quem quer dinheiro?"
O filme se diferencia um pouco dos citados anteriormente, por buscar a satirização de uma vida sem limites, ao invés de colocá-la estritamente como meta. É um filme sobre crimes e pecados, mas sob a ótica do exagero, da extrapolação e principalmente, da banalização de tudo isso. 

O personagem de Jonah Hill é o perfeito exemplo: Seu Donnie Azeroff acaba por fazer as vezes do oposto ao protagonista. O homem que tem sonhos, aspira a coisas maiores, mas sem o conhecimento dos meios. Como reagir frente a um pagamento mensal de 72 mil dolares? Ao acesso ilimitado a drogas, mulheres e às mais diversas regalias? Ele seguirá Jordan até o fim. E eventualmente premiado por isso.

Mais adiante, o filme acaba por cair na repetição dos temas. A primeira metade do filme vem forte e prende o espectador com as possibilidades que Jordan cria para si (a cena com os especuladores de ações menores (pennystocks) é fantástica e mostra o que o peixe grande consegue fazer num lago pequeno. E de lá, o consequente e iminente vôo a maiores objetivos e conquistas. No entanto, a segunda metade - que fala sobre a queda e onde Scorcese costuma a exercer a sua maestria - fica repetitiva e até um tanto previsível (mesmo que você, como eu, não tenha prévio conhecimento da história de Jordan Belfort). 

Daqui a alguns anos, "Lobo" deverá ser relacionado numa breve seleção de filmes de Scorcese, pela capacidade que o diretor tem de infiltrar humor ácido em situações tensas. É uma incursão válida. Pode não ser o melhor, mas, vez ou outra, um mestre como ele tem o direito de exagerar na dose.



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