segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O Mau Inteligente.

Ele tem uma câmera na mão. E algumas idéias erradas na cabeça.

O Abutre
(Nightcrawler; EUA, 2014)
Dir.: Dan Gilroy
Com Jake Gyllenhaal, Rene Russo, Bill Paxton, Riz Ahmed
1h57min - Suspense - 14 Anos


Um bom vilão, é um vilão inteligente.

O que usa sua capacidade intelectual para o mal. E que com ela, busca se beneficiar de uma certa oportunidade para benefício próprio, mesmo que algumas cabeças sejam cortadas no caminho. Bastaria um herói para dete-lo. Mas em "O Abutre", que tem muita coisa boa, não tem um mocinho para impedir o avanço desse protagonista. 

Em "O Abutre", esse protagonista é Louis Bloom, um vagabundo que vive de pequenos furtos e que procura um emprego fixo para obter melhor renda. Certo dia ao se deparar com um acidente de carro, percebe que pode fazer dinheiro fácil ao ver um homem filmando a tragédia para vender ao noticiário local. Com a câmera na mão, idéia na cabeça, conhecimento adquirido e um bom contato em um canal de TV, Louis começa a conquistar seu espaço em um lucrativo, porém, arriscado negócio.

Acho que daqui a cena fica melhor...
A grande discussão traçada pelo filme é sobre os limites éticos pessoais e profissionais que você está disposto a estabelecer para ganhar a vida. E Louis Bloom, personagem interpretado com maestria por Gyllenhaal (minha interpretação favorita do ano) parece não entender esse limite. Seu personagem se transforma, baseando-se nos cursos online que faz e negociando com frases prontas, vomitadas de livros teóricos que lê sobre os assuntos que precisa conhecer para atuar no meio. Seus métodos são extremamente técnicos e livres de qualquer tipo de empatia pelos outros, inclusive pelo seu empregado.

O roteiro extremamente bem escrito dosa essa evolução de Louis e o desenrolar natural da trama leva o espectador em uma caótica viagem pelas noites de Los Angeles para mostrar o pior lado do homem e coloca-lo como manchete no jornal da noite, por dar muito mais ibope e valorizar as carreiras profissionais dos envolvidos. Rene Russo, como a diretora do turno da noite é um excelente contraponto para o desenfreado Louis, que no momento certo a tem nas mãos.

"O Abutre" não é um filme de fácil digestão, tampouco leve de se ver.

Mas é facilmente um dos melhores do ano.


Busca Espacial

Christopher Nolan vai para o espaço.

Interestelar
(Interstellar; EUA, 2014)
Dir.: Christopher Nolan
Com Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Michael Caine, Jessica Chastain
2h46 min - Ficção - 10 Anos



Quando Christopher Nolan assina a direção de um filme, prepare-se para ver algo fora do comum.

Porque seus filmes jamais se atém apenas ao conteúdo principal. Suas tramas (escritas por ele e por seu irmão Jonathan) são ricas, densas e sempre apresentando riscos pessoais gigantescos aos seus personagens.

Em Interestelar, a regra continua, mas em maior escala: Cooper (McConaughey) é um ex-piloto, que teve que abandonar sua função e se tornar fazendeiro, devido à escassez de alimentos que o planeta enfrenta, depois que uma praga passou a dizimar plantações. E o diagnóstico não é dos mais promissores. A humanidade não sobreviveria além de duas gerações e a única saída é partir numa missão interestelar a fim de achar um novo planeta com condições de abrigar a população da Terra.

Vou sair para pesquisar planetas e já volto, ok?

Se você espera um filme sobre explorações espaciais com boas doses de ação e suspense, você encontrará um pouco disso aqui. As cenas que se passam no espaço são visualmente belíssimas e há muito o que se segurar na cadeira quando as coisas se complicam nas visitas a outros planetas.

Mas o filme não é apenas sobre isso. 

O filme é principalmente focado na relação de Cooper com a sua filha Murph, que abre caminho para a real discussão que Interestelar quer fazer: O quanto o "amor" e as relações afetivas pesam nas decisões pessoais ao realizar um trabalho por um bem maior. Essa discussão fica clara quando os personagens de McConaughey e Hathaway debatem na metade do filme sobre qual rumo tomar baseando-se em dados científicos ou em sentimentos.

Tempo, portanto, se torna o maior risco que a tripulação tem que enfrentar, especialmente quando a noção de tempo se estabelece de formas diferentes aos personagens. E esse talvez seja um dos grandes trunfos que o filme esconde. O fator que o tempo tem de peso na história fica muito claro. Os demais riscos são calmamente explicados na primeira hora de filme, fazendo com que o espectador não precise fazer tanta conta e consiga acompanhar a trama com a intensidade necessária.

Com atuações muito boas (destaque para as interpretações de vozes dos robôs TARS e CASE) e excluindo um momento descartável da trama, onde um ator conhecido aparece em um personagem que muda o curso do filme, Interestelar acaba por ser um bom filme com bons momentos, mas longe de ser o mais memorável dos momentos de Christopher Nolan nos cinemas.

O que, considerando o cineasta, jamais significaria ser um mau momento.


sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Mistério Exemplar.

Prepare-se para ser manipulado.

Garota Exemplar
(Gone Girl; EUA, 2014)
Dir.: David Fincher
Com Ben Affleck, Rosamund Pike, Neil Patrick Harris, Tyler Perry
2h19 min - Drama/Suspense - 16 Anos



Se você gosta de um bom mistério, fica aqui a minha dica, talvez, do ano. Ainda que este já esteja em sua derradeira semana.

Mistério daqueles realmente bons, com trama densa, bons personagens e reviravoltas vibrantes que lhe farão arrepiar os pelos da nuca.

Em "Garota Exemplar", o mais recente trabalho do diretor David Fincher ("Seven - Os Sete Crimes Capitais", "A Rede Social"), Ben Affleck é Nick Dunne, homem que acorda no seu aniversário de casamento e tem de lidar com o desaparecimento de sua esposa em circunstâncias misteriosas. Mas nada é o que parece ser, conforme novas evidências surgem, que colocam Nick como principal suspeito de assassinato. Caso que choca a comunidade em que vive e que toma proporções nacionais.

"Eu não matei minha mulher... Foi um homem sem braço..."
A história, possui 3 atos: O primeiro é exatamente o que vemos no trailer. Nick não é o que parece ser, mas ele jura ser inocente. O segundo ato, para quem não leu o livro, é uma virada espetacular que leva o espectador a coçar a cabeça já na metade do filme, levando-o a um misto de sentimentos que servirão como uma bomba na chegada do terceiro e último ato, numa conclusão corajosa e que certamente dividirá opiniões.

Falar mais do que isso, é prejudicar sua experiência neste belo filme. Quanto menos você souber, melhor. Com destaque para a parte técnica do filme (fotografia, trilha e montagem em especial) e às impressionantes atuações de Affleck e sua companheira Amy (Rosamund Pike) sob a batuta de Fincher que fazem deste, um filme imperdível.



terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A Nova Geração

A internet vai ao cinema.

Homens, Mulheres e Filhos
(Men, Woman and Children; EUA, 2014)
Dir.: Jason Reitman
Com Kaitlyn Dever, Rosemarie DeWitt, Ansel Elgort, Adam Sandler
1h59 min - Drama - 16 Anos


Jason Reitman parece ter trazido muito do talento de seu pai, Ivan Reitman, para seu trabalho.

Se o pai era sinônimo de filme engraçadíssimos e sucessos de bilheteria dos anos 80/90 (Os Caça-Fantasmas, Irmãos Gêmeos, Recrutas da Pesada - para citar alguns), o filho tem um olhar mais voltado para o drama. Sua curta, porém impressionante filmografia, trouxe pérolas realistas (e indicações ao Oscar), como "Juno" e "Amor Sem Escalas".

Mas o foco não é comparar. É falar do mais novo filme de Jason Reitman, "Homens, Mulheres e Filhos", onde histórias dentro de uma comunidade se cruzam. Personagens que são diretamente influenciados pela falta de diálogo entre si e pela intensidade em que a internet influencia suas vidas, o que acaba por servir de escape para fugirem de uma realidade que consideram dura demais.

"Oi, me manda uma vida no Candy Crush?"

O filme é um conjunto de pessoas buscando alguma forma de se conectar com as outras. Conexão que parece ser tão difícil em uma interação real com pessoas próximas ou então, estabelecer conexões virtuais com completos estranhos na qual se fala sobre detalhes pessoais. E como isso pode afetar aos que estão em presença física, logo ao seu lado.

Mas o verdadeiro brilho do filme está nas mãos suaves que o diretor emprega em temas delicados como solidão, depressão e frustrações. Mas principalmente, quando abre o dialogo sobre os diferentes e perigosos graus de exposição aos quais, Homens, Mulheres e Filhos estão dispostos a enfrentar na busca de tentar se conectar com alguém. Seja pelas diferentes redes sociais retratadas no filme, seja pela banalização do ato sexual ou pela simples fuga do medo de se sentir só ou excluído da sociedade. 

Tudo isso traçando um paralelo belíssimo com a imagem "Pálido Ponto Azul" (e as reflexões de Carl Sagan sobre a fotografia) e à sonda Voyager, que leva conhecimento dos humanos a alguma sociedade estranha, que poderia estar em algum lugar do espaço.

No fim das contas, observamos uma documentação importante e muito interessante do retrato de uma geração que se esconde atrás de uma tela, para não encarar o medo de não ser olhado devidamente nos olhos. 



 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Ele Sempre Volta

Boa história, boa ação.

Sabotagem
(Sabotage; EUA, 2014)
Dir.: David Ayer
Com Arnold Scwarzenegger, Sam Worthington, Olivia Williams e Terence Howard
1h49min - 18 Anos - Ação/Suspense - EM BLURAY E DVD


Se você tem entre 30 e 45 anos, então pegou uma fase, digamos, clássica de Arnold Schwarzenegger. Se tinha alguém para "vingar", "exterminar" ou salvar, ele provavelmente era o cara mais indicado para o serviço. 

Os anos 80, de fato, foram muito bons para ele. Do Externinador do Futuro, ao Predador, citando até aquele "Comando Delta" (canastrão ao quadrado), os papeis de Schwarzenegger eram sempre embalados por muita violência e cenas de ação divertidíssimas. Em alguns casos, ele até permitia rir de si mesmo quando entregou filmes como "True Lies" (meu favorito) e "O Último Grande Herói". 

Depois de ocupar o cargo de Governador da California, parece que ele voltou com tudo. Depois de se divertir muito na trilogia dos Mercenários, e de alguns filmes menores, mas com boas doses de ação, Schwarzenegger volta neste ótimo "Sabotagem", em que lidera um grupo de elite da força-tarefa do DEA (divisão de combate ao tráfico de drogas). Quando, numa apreensão, somem 10 milhões de dólares, os membros da equipe vão desaparecendo um a um. 

"Olha como eu fico grande com esse charuto e o peito de pombo".
Bem, se você pegou esse filme para assistir, são grandes as chances de sair satisfeito com a escolha. 

A história do filme prende bem o espectador, apesar de batida. Tentar descobrir o criminoso por trás da trama é um divertido exercício (apesar das fortes cenas de execução ou das cenas do crime), especialmente quando o seu principal suspeito acaba sendo a próxima vítima. As inúmeras histórias complementares (em maior número do que as sequências de ação) que amarram o roteiro são bem constuídas e essenciais para o conjunto final.

Tudo leva a dois bons atos presentes nos 20 minutos finais, sendo uma delas feita sob medida para quem estava com saudade do "Schwarza clássico".

Com boas atuações coadjuvantes, "Sabotagem" serve tanto para quem gosta de um bom filme de ação no estilo de Schwarzenegger, quanto para quem gosta de uma boa trama se suspense policial.

Afinal de contas, ele sempre volta.


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Galáxia Vintage

Marvel em um momento relax.

Guardiões da Galáxia
(Guardians of the Galaxy; EUA/ING, 2014)
Dir.: James Gunn
Com Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Benício Del Toro
1h44 min - Ação/Comédia - EM BLURAY E DVD



A Marvel é muito seria. 

Em poucos anos, inundou as telas e o imaginário coletivo ao introduzir filmes de diferentes super-heróis e preparar a base para uma história única, contada através de múltiplos filmes. E fez um golaço. 

Quanto mais bilheterias, mais o Universo Marvel se expande. E mais portas se abrem para a inserção de novos personagens. 

Mas a Marvel é muito seria. E as vezes faz bem relaxar. Fazer umas piadas. Tirar o sapato e descansar um pouco. Aliviar a tensão. E a forma mais Marvel de fazer isso, é obviamente, com outra história para expandir (ainda mais) seu universo. 

Esse filme, no caso, é Guardiões da Galáxia, a maior e melhor surpresa da marca. Peter Quill, é um mercenário espacial que acaba adquirindo um ítem valioso, o que acaba chamando a atenção de outros caçadores de recompensas. Para se safar e evitar que esse ítem caia em mãos erradas, ele se unirá a um grupo de desajustados para que o Universo não tome um sombrio rumo. 

"Me dê as chaves seu..."
"Guardiões" é de longe o filme mais charmoso e despojado do universo Marvel. Com um apelo diferenciado dos demais filmes da marca, abdica de focar na ação para privilegiar diálogos e um irreverente humor com maior destaque. São personagens carismáticos colocados em uma trama simples com o propósito de divertir de forma descontraída. Não tenta soar como um filme serio em nenhum momento e esse provavelmente é o maior mérito do longa. 

Seu charme ainda contempla uma trilha sonora inspirada, com um feeling retrô que leva o público a um curioso sentimento de nostalgia, como se transportado a uma ficção científica dos anos 70. Um respiro de ar fresco em meio à tanta seriedade que os próximos filmes da Marvel promete (especialmente no que o próximo Vingadores aparenta ser com o seu trailer).

Voltemos à quebradeira portanto. Mas com data marcada para o próximo "momento relax", em 2018.