domingo, 22 de fevereiro de 2009

A Qualquer Custo

O cinema finalmente abraça Bollywood

QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?
(Slumdog Millionaire; ING/IND, 2008)
Dir.: Danny Boyle
Com Dev Patel, Irrfan Kahn, Freida Pinto, Anil Kapoor
2h00 min - Drama - 14 anos

Histórias de amor sempre tiveram um lugar seguro no cinema. São sempre diferentes abordagens, que vão desde a mais comum (a engraçadinha) até as histórias de amor impossíveis, onde os pombinhos devem romper barreiras sociais e transpor obstáculos difíceis em nome do amor. Há ainda, histórias de amor que se resolvem com o passar dos anos, mas que garantem o final feliz. O outro favorito ao Oscar de 2009, traz quase todos os requisitos acima, com uma dosagem forte de influências Bollywoodianas.

Jamal está apaixonado há muito tempo por Latika. E Jamal também está prestes a se tornar o mais novo milionário da Índia. Só que por ser um garoto pobre e de estar a uma resposta de quebrar e transpassar um sistema social rígido, Jamal está sob investigação de fraude no programa de Televisão "Quem Quer Ser Um Milionário". Mas ao contar as histórias de sua vida, que o levam a cada uma das respostas dada ao apresentador, tudo leva a crer que mais importante do que o dinheiro que pode cair nas mãos do garoto, é sua amada o reconhecer na TV e ir de encontro a ele.

"A saída é por ali..."

A verdade é que "Quem Quer Ser Um Milionário", é um filme fácil de gostar. Tem a história do amor impossível, tem os percalsos e as dificuldades de uma história de amor, que centralizadas um "vilão" sutil e em outros vilões menores que compõem a tumultuada vida do personagem principal. Mas tem o fantasma da pobreza e da violência consequente que persegue o protagonista por todo o tempo. O foco social está sempre presente e sempre direcionando cada uma das ações de cada personagem. E tem os momentos emotivos/engraçados para prender o espectador durante as duas horas de filme. O estilo visual forte de Danny Boyle (que há muito tempo não frequentava um filme bom) acentua positivamente no filme. Muito bem escrito, muito bem dirigido, mas principalmente, muito bem editado, deve ser a (não tão) surpresa do Oscar de 2009. Já faturou muitos prêmios no ano e vencer o maior deles no cinema seria a glorificação de um filme muito bem feito e que merece o reconhecimento do público. E Bollywood continua se aproximando do outro lado do mundo...

Nota 9,0

Trailer:

10 Indicações ao Oscar

-Filme
-Diretor
-Roteiro Adaptado
-Edição
-Fotografia
-Trilha Sonora
-Canção (2)
-Efeitos Sonoros
-Som

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O direito de ser

Sean Penn roubará a noite do Oscar?

MILK - A VOZ DA IGUALDADE
(Milk; EUA, 2008)
Dir.: Gus Van Sant
Com Sean Penn, Josh Brolin, James Franco, Emile Hirsch
2h08 min - Drama - 16 Anos



Gosto muito de filmes biográficos. Principalmente quando se trata de alguém desconhecido para mim. Não importa a causa, não importa o contexto, nem a nacionalidade. Apenas me dê uma biografia de alguém que nunca ouvi falar e me conte como que a sua história influencia no mundo de hoje. E aqui, temos um elenco brilhante, liderado por Sean Penn (um dos astros mais inteligentes e capacitados do cinema atual) em uma biografia de uma persona inédita. Pelo menos, para mim, inédita.

Penn interpreta Harvey Milk, ativista que foi decisivo na luta pelos direitos dos homossexuais até se tornar o primeiro congressista gay dos Estados Unidos. Até o seu assassinato no fim da década de 70. O filme foca na luta desde a mudança do personagem para San Francisco até sua ascenção como congressista americano, terminando no ano de seu assassinato. No meio do caminho, os relacionamentos turbulentos do personagem e como ele influenciou o cenário.


"Espera, o que você disse sobre o meu cabelo?"

Eu sei que já estou me tornando repetitivo. Já é o quarto post consecutivo que vou exaltar uma atuação. Mas falar de Milk e não citar a performance marcante de Sean Penn é o mesmo que falar de um jogo de futebol e não mencionar os times que jogam. Levou os prêmios de melhor ator em todas as premiações em que Mickey Rourke não levou. Dito isso, É necessário exaltar também o tremendo trabalho de direção por parte de Gus Van Sant. Eu estava com sérios problemas para aceitar seus trabalhos mais recentes (vastamente elogiados pela crítica) e aqui ele utiliza de seu estilo clássico que cai como uma luva para imprimir a pressão em que Harvey Milk sentia. Ainda para quem não sabia absoulutamente nada sobre o ativista (eu, por exemplo) consegue captar o tom aflitivo dos reprimidos, substituindo takes impressionistas ou frases de efeito por takes densos e visualmente comprimidos. Os coadjuvantes que tomam o filme de assalto (com menção principalmente a Josh Brolin como o adversário político Dan White), estão muito bem, cada um focado na diferente forma de influenciar o personagem principal. O desfecho entregue logo aos cinco minutos de filme só fazem por ajudar na crescente aflição até o triste climax, enaltecido pela trilha maravilhosa de Danny Elfman coroam um dos mais impressionantes filmes que você verá em 2009. 

Nota 9,5

Trailer:



8 Indicações ao Oscar:

-Filme
-Diretor
-Ator (Sean Penn)
-Ator Coadjuvante (Josh Brolin)
-Roteiro Original
-Montagem
-Figurino
-Trilha Sonora

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Reerguendo Carreiras

O (provável) Oscar de Mickey Rourke

O LUTADOR
(The Wrestler; EUA, 2008)
Dir.: Darren Aronofsky
Com Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood, Ernest Miller
1h55 min - Drama - 18 anos


Um ator pode ficar marcado por um personagem. Uma interpretação inspirada, reconhecida, e a partir daquele momento todos lembrarão do personagem que irá estereotipar o ator pelo resto de sua carreira. Ou há casos onde o personagem procura seu intérprete perfeito. Ele existe e tudo o que resta é o roteiro aterrisar sobre a mesa do ator. Ano passado, o personagem era Randy "The Ram" Robinson. O ator é Mickey Rourke. E o encontro se deu num filme espetacular, chamado "O Lutador".

Randy "The Ram" Robinson era um lutador de luta livre famoso e vencedor. Conhecido em todos os EUA (onde o esporte, digamos, é muito bem conhecido) e campeão, atraíndo sempre multidões nas arenas das mais perigosas lutas. Ele era. A idade chegou para ele e os problemas decorrentes da idade e do consumo abusivo de drogas encontraram The Ram, e agora ele terá de escolher entre viver uma vida comum e pacata, onde terá de reencontrar suas raízes e adimitir seus erros com sua filha ou se arriscar até o fim na arena.

"Wow... preciso maneirar na bebida..."

Mickey Rourke é The Ram. The Ram é Mickey Rourke. Um personagem que está literalmente o tempo todo na tela e que a câmera inquieta de Darren Aronofsky força o espectador a assitir todos os momentos de dor e decepção de um homem que é forçado a deixar a luta fantasiosa e combinada dos ringues, pela imprevisível de ser um cidadão comum. Desde que Jamie Foxx trouxe Ray Charles ao cinema que eu não me impressionava tanto com uma interpretação tão realista e densa. Um personagem que se recusa a sucumbir na pressão de um trabalho estranho e de ter a única filha distante de sua vida. 

E o filme? Não se preocupe, é um filmaço. Mas como as duas horas de projeção ficam em torno de Rourke, não acho que você lembrará de muitas outras coisas. Apenas do Lutador. E da cena do supermercado.

Nota: 9,5

Trailer:



2 Indicações ao Oscar:

-Ator (Mickey Rourke)
-Atriz Coadjuvante (Marisa Tomei)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Tudo a perder

Fazendo justiça com lábia e patrocinadores.

FROST/NIXON
(EUA; 2008)
Dir.: Ron Howard
Com Frank Langella, Michael Sheen, Sam Rockwell, Kevin Bacon
2h02 min - Drama


Ron Howard pode ser um diretor que não divide da mesma fama de um Spielberg ou pertencente à mesma classe de um Coppola. Mas Ron Howard andou fazendo excelentes filmes. Seu verdadeiro talento no entanto, aparece quando lida com uma história verídica. Ganhou o Oscar por "Uma Mente Brilhante", colocou Tom Hanks no espaço em "Apollo 13" e agora relata o embate televisivo entre o ex-presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon e o apresentador-galã inglês David Frost. 

O que foi planejado como um mero bate-papo, se torna na esperança de uma nação para ouvir um pedido de desculpas engasgado de um presidente recém-deposto. Se de um lado, Nixon está desfrutando suas férias forçadas, do outro, Frost busca patrocinadores, emissoras e aliados para fazer as entrevistas acontecerem. E o iminente confronto entre Davi e Golias está cada vez mais próximo, forçando a celebridade a deixar de lado as festas e se concentrar na enorme responsabilidade que arrumou.

"Puxe meu dedo..."

Durante as duas horas de duração, o diretor Ron Howard utiliza-se de seu talento para construir um embate belo e tenso, quase como uma luta de boxe, onde qualquer lado pode vencer a qualquer hora e por qualquer meio necessário. Seu cuidado com toda a preparação e expectativa para o embate funciona e o público passa a conhecer os prós e contras para a hora da verdade. Sim, todos terão cartas na manga e todos estão propensos a cair, caso não estejam preparados. O maior pecado, no entanto, é a interpretação memorável de Frank Langella como o ex-presidente norte-americano Richard Nixon (merecidamente indicado ao Oscar) engolir todos os outros personagens. Ainda que seja a intenção do filme, Langella traz seu monstro para frente das câmeras e entrega uma persona ao mesmo tempo carismática e impiedosa. Nixon mostra-se superior ao longo de quase todo o filme, intensificando o sentimento de Davi do lado de David Frost. E assim como o público americano devia se sentir na época, é impossível não torcer pela queda do monstro frente ao pequeno apresentador de auditório. 

Nota: 8,0

Trailer:


5 Indicações ao Oscar:
-Filme
-Diretor
-Ator (Frank Langella)
-Roteiro Adaptado
-Edição

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A Alma de um Monstro

O (provável) Oscar de Kate Winslet.

O LEITOR
(The Reader; EUA/ALE; 2008)
Dir.: Stephen Daldry
Com Kate Winslet, Ralph Fiennes, David Kross, Lena Olin
2h03 min - Drama - 16 Anos



"O Diário de Anne Frank". Leitura obrigatória em uma das matérias do colégio em que frequentei. E, sempre que me deparo com um filme cujo tema relaciona-se com o Holocausto, o livro me volta à mente. Me marcou porque em meio a tanto caos, medo e desconfiança que cercam os personagens do livro, havia um amor marcante de uma adolescente. Algo de ingênuo e belo em meio ao apocaliptico.

E o filme começa justamente com Michael se lembrando do momento mais marcante de sua vida: Quando conheceu a oficial Hanna Schmitz. Se conhecem, se apaixonam e, apesar da diferença de idade, começam a se ver todos os dias após as aulas do rapaz. E em cada encontro, Michael lê um livro para entreter Hanna. Até que um dia Hanna se muda sem deixar vestígios. Os tempos passam e Michael descobre que Hanna foi presa e será julgada pelo seu envolvimento com os nazistas, colidindo com tudo aquilo que acredita.


"Quantas páginas você disse que esse livro tem?"

Todo Oscar tem seu indicado melancólico. "O Leitor" é o indicado de 2009. É um belo conto, muito bem estruturado, com atuações interessantes. Interessantes porque Kate Winslet está muito além e se encarrega de dominar as duas horas de projeção com uma interpretação assustadora e impressionante. Mas o filme peca um pouco por tentar ser muito esclarecedor, deixando o programa quase entediante. Saber sobre Holocausto é bagagem necessária para entender a intensidade do abalo que o julgamento causa sobre os protagonistas. A história de amor, forte nos primeiros 40 minutos (enfatizados pelas exageradas cenas de nudez), se faz presente, mas à medida em que o julgamento toma suas definições, o impacto nos personagens faz brilhar Winslet e deixa Fiennes ser esquecido. O mérito do filme é construir uma pessoa fria (Hanna), mostrar um belo mundo a ela e fazer com que a sua ingenuidade e a necessidade se tornem um castigo. Winslet deve levar o Oscar. Mas já foi injustiçada algumas vezes. Programa cult, indicado para os amantes do drama. Mas definitivamente poderia ser substituído entre os cinco finalistas do Oscar. 

Nota 7,0

Trailer:



5 Indicações ao Oscar:
-Filme
-Diretor
-Atriz (Kate Winslet)
-Roteiro Adaptado
-Fotografia

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Caretas Light

Não, não é uma outra versão de "O Mentiroso".

SIM SENHOR
(Yes Man; EUA, 2008)
Dir.: Peyton Reed
Com Jim Carrey, Zooey Deschannel, Rhys Darby, Terence Stamp
1h44 min - Comédia - 12 Anos

Quando Jim Carrey apareceu para o mundo, lá em 1993 com Ace Ventura, o cinema havia descoberto uma nova fonte de renda, em termos de comédias escrachadas pós-Jerry Lewis. Era algo bem diferente do que Eddie Murphy e cia. tinham como proposta. Era o mundo das caretas e roteiros amalucados novamente. Funcionou por um bom tempo. E Jim Carrey, com o passar dos anos resolveu sair da rotina e dizer "sim" à novas propostas. Apresentou excelentes filmes como "O Show de Truman" e  "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", mas acumulou alguns vexames como "Número 23". Foram novas experiências que moldaram o ator. Fez bem para o currículo, mas em algum momento o Alarme soou, e Carrey voltou ao campo do pastelão. 

O filme retrata a nova experiência de Carl Allen, um gerente de empréstimos de um banco em Los Angeles que diz não à qualquer proposta que lhe aparece pela frente por ter como segurança maior a sua rotina. Mas depois de encontrar um velho amigo e participar de um seminário de auto-ajuda, ele faz um acordo com o palestrante (Terence Stamp, pagando as contas) que a partir daquele momento ele terá de dizer "sim" a qualquer proposta que lhe for feita.

"Festa Nerd do Harry Potter? Sim Senhor!"

Antes que você diga "é um 'O Mentiroso' ao contrário", lhe indico o filme por ser algo um tanto mais inteligente. As piadas do filme de 1999 continuam muito boas, mas a proposta aqui é mais coerente. Não tem nenhuma magia ou impedimento para que o personagem diga "sim" para tudo. É apenas um conceito de auto-ajuda levado ao extremo. E na pele de Carrey (onde suspeito que o papel tenha sido escrito para ele) o roteiro cai como uma luva e as piadas do filme funcionam bem. Principalmente nas festas do chefe nerd de Carl e em uma ou outra proposta bizarra que o filme oferece. Pode não ter mais aquela acidez ou originalidade de seus primeiros papéis, mas é genuíno. É é sempre bom ver Carrey de volta à ativa. Mesmo que em uma versão light.

Nota: 8,0

Trailer: