segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Balé Assustador

CISNE NEGRO
(Black Swan; EUA, 2011)
Dir.: Darren Aronofsky
Com Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassell, Barbra Hershey
1h48min - Suspense


Tem algo de muito sombrio durante as quase duas horas de projeção de “Cisne Negro”

Pode ser a mão propositalmente pesada de Darren Aronofsky e seus cenários contrastantes em preto e branco (uma óbvia alusão ao conflito do bem e o mal – cisne branco e cisne negro)

Pode ser a linha tênue entre a sanidade mental e física que Natalie Portman e sua Nina Sayers vive.

Pode ser ainda, a panela de pressão profissional, em que a personagem está, concorrendo pelo papel principal em “O Lago dos Cisnes”, a intensa cobrança de sua mãe, ex-bailarina, completada pela necessidade de uma apresentação perfeita.

Pode ser, sim, tudo isso.

"Acho que você está bem estressada..."

Essas duas horas que o diretor Aronofsky cria aqui, pode bem ser as duas horas mais intensas do cinema deste ano.

Ou o mais assustador de tudo, seja simplesmente o fato de que, o filme consegue estabelecer uma conexão entre personagem e espectador, ainda que Nina, viva em um mundo tão incomum a muitos de nós.

Culpa, também, de Natalie Portman.

A mais perfeita das apresentações cinematográficas em anos.

Porque não basta mergulhar no papel. Tem que levar o espectador junto.

E juntos vamos, até beirar a loucura, em um mundo pouco conhecido.

Mas o suficiente para soltar um primeiro respiro após duas horas, numa dança assustadora, promovido por um cinema de baixo orçamento, mas de primeira qualidade.


(Nota: 9,5)

Trailer:

Indicado a 5 Oscars:
-Melhor Filme
-Melhor Diretor (Darren Aronofsky)
-Melhor Atriz (Natalie Portman
-Melhor Fotografia
-Melhor Edição

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Quem apanha e quem reage.

O VENCEDOR
(The Fighter; EUA, 2010)
Dir.: David O. Russell
Com Mark Wahlberg, Christian Bale, Melissa Leo, Amy Adams
1h55min - Drama


Filmes de boxe costumam a funcionar no cinema.

E boxe, é um esporte que, de certa forma, não impacta no espectador como algo possível de ser vivenciado. (A não ser, é claro, que o espectador seja, ao mesmo tempo, um lutador de boxe).

Eu, por exemplo, não sou um lutador de boxe. Mas assisti a muitos filmes sobre o esporte, que conseguiram cativar o espírito de luta que existe em cada um de nós, e que funcionaram como filme autobiográfico, ou como filme ficcional.

Deu muito certo com Rocky (esqueça o Rocky 5), Menina de Ouro, Touro Indomável, Ali...

E funciona muito bem também, com este "O Vencedor", indicado a 7 Oscars, e provável vencedor de dois.

Um para Christian Bale. Outro para Melissa Leo. Mas eu posso estar me antecipando.

"Quantos dedos tem aqui?"

O filme conta a história (real) do boxeador Micky Ward, lutador peso médio, pobre, simples, que tinha no boxe a única forma de ganhar um bom dinheiro, fora de seus pequenos bicos, trabalhando pela comunidade local.

Sua agente, era a própria mãe (Melissa Leo), que primeiro pensava no retorno financeiro, e depois na segurança de seu filho.

Seu treinador, era o irmão, Dicky Eklund, ex-boxeador, costumava a ser o orgulho da região, até se afundar no vício do crack. Ainda acredita que voltará a ser um grande lutador.

De forma bem concisa, o diretor David O. Russell, envolve seu espectador e o convida a conhecer cada um dos personagens centrais da trama. Seja em momentos de bom humor, seja em momentos onde a raiva dos personagens com a vida parece permear a tela e transpassar ao espectador.

Quando as feridas expostas de cada um destes personagens vem à tona, são momentos onde o diretor acerta em cheio, com cuidado para não virar um filme sobre boxe, mas sobre boxeadores e o meio onde onde vivem.

E como o meio que constrói, pode ser o mesmo que destrói.

Basta apenas "ter cabeça", saber escolher e saber levantar.

(Nota: 9,0)

Trailer:


Indicado a 7 Oscars:
Melhor Filme
Melhor Diretor (David O. Russell)
Melhor Ator Coadjuvante (Christian Bale)
Melhor Atriz Coadjuvante (Amy Adams)
Melhor Atriz Coadjuvante (Melissa Leo)
Melhor Roteiro Adaptado
Melhor Edição

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Uma Imagem e as Mil Palavras

INVERNO DA ALMA
(Winter's Bone; EUA, 2010)
Dir.: Debra Granik
Com Jennifer Lawrence, John Hawkes, Isaiah Stone, Garret Dillahunt
1h40 min - Drama




Em algum momento da sua vida, você já viu este filme.

De forma diferente, talvez.

Ou em pior dos casos, pode até ter acontecido algo parecido com você.

Porque então, separar quase duas horas da sua vida para assistir a "Inverno da Alma"?

Fácil falar.

Se você já viu esta história antes, não viu sob este ponto de vista.

Sob esta direção.

E não era um filme com Jennifer Lawrence (indicada ao Oscar de melhor atriz). Ou com John Hawkes (indicado ao Oscar de ator coadjuvante).

"Meio frio aqui nesse cemitério, hein?"

Ree Dolly (Lawrence), é uma adolescente de 17 anos, que tem que cuidar de sua mãe doente, de seus dois irmãos e sustentar a casa onde vivem. Casa que foi colocada como garantia de fiança de seu pai, preso por envolvimento em tráfico de drogas. O problema é que seu pai está sumido e se ele não aparecer para o julgamento, o Estado tomará a casa de Ree.

E agora, com a ajuda de seu tio (John Hawkes, numa atuação assustadora) ela vai ter que encarar os inimigos de seu pai, para encontrá-lo a tempo de levá-lo a justiça, e assim assegurar o teto de sua família.

A tensão crescente, envolvida pelo silêncio perturbador, faz toda a diferença deste filme para àqueles que você já pode ter visto antes.

E porque a diretora Debra Granik, confia na inteligência do espectador, ocultando informações para que a dedução destas, acrescente e envolva o público.

Um filme independente, marcado por um roteiro forte e por atuações surpreendentes. Sem pirotecnias, sem exageiros ou extravagâncias.

Um filme repleto de imagens fortes e poucos diálogos.

Um filme como há muito tempo não via.

Um filme que você deveria assistir.

Nota: 8,5

Trailer:


Indicado a 4 Oscars:
-Melhor Filme
-Melhor Atriz (Jennifer Lawrence)
-Melhor Ator Coadjuvante (John Hawkes)
-Melhor Roteiro Adaptado

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Mesmo ator, o mesmo personagem

O TURISTA
(The Tourist; EUA 2010)
Dir.: Florian Henckel Von Donnersmark
Com Johnny Depp, Angelina Jolie, Paul Bettany, Timothy Dalton


Talvez seja aquela boa e velha fórmula de não mexer em time que está ganhando.

Ou seja um pedido de produtores e editores.

Mas Johnny Depp, por mais legal que seja vê-lo em cena, não consegue fugir do "estilo Jack Sparrow de ser".

Até mesmo antes de Jack Sparrow surgir.

As gags, as mãos, o andar bêbado, a cara de sono...

É divertido, não me interprete mal... Deu certo em bons filmes, como em "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça", "Janela Secreta" e nos filmes da série "Piratas do Caribe".

E ainda assim, Johnny Depp dá um show interessante neste "O Turista", mesmo com uma história previsível, furada e com clichês.

Angelina Jolie é Eliza Ward, uma fugitiva da interpol que se envolve com um turista, para tentar despistar os agentes. Porém, o que ela não previa é que o Turista se apaixonasse por ela. E consequentemente, o envolvesse na fuga.

"Volta aí... Vamos tomar mais um... drink?"

Você pode acreditar na história, se quiser.

O que não dá para acreditar, é as constantes tentativas de fazer o par "Depp-Jolie" funcionar, porque Jolie é exatamente o que está fora do lugar.

Parece estar com a cabeça longe da produção. Bem longe.

Porque o "estilo" de atuação que acaba se repetindo nos filme de Depp combina mais com o estardalhaço, pirotecnias e histórias mais extravagantes do que intrigas internacionais. E não com a distância e a carinha inossa que Jolie trouxe para este filme, tentando deixar o filme mais sério.

Talvez por isso, o lado bem-humorado funcione tão bem. Mas acaba por deixar as ameaças mais rasas, sem grandes riscos.

No final das contas, um filme um tanto divertido, salvo as exceções, que vai fazer valer o ingresso, mais pelas risadas, do que pela história em si.

E se você jamais suspeitar da previsibilidade que cerca o filme por todo o tempo.

(Nota: 7,0)

Trailer:

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sobre o Além

ALÉM DA VIDA
(Hereafter; EUA, 2010)
Dir.: Clint Eastwood
Com Matt Damon, Cecille de France, Bryce Dallas Howard
2h10min - Drama - 14 Anos



Não gosto muito quando bons diretores, em certo ponto de sua vida, falam sobre mortalidade.

Perde-se um pouco o foco, das histórias como gostam de contar, para falar sobre o medo (ou não) de encerrar a carreira e a vida.

Clint Eastwood, foi um bom ator. Dono de frases clássicas, personagens fortes em filmes memoráveis.

Melhor que o ator, o produtor, o compositor, só mesmo o diretor.

Que trouxe filmes espetaculares.

"Sobre Meninos e Lobos", "Menina de Ouro", "As Pontes de Madison", entre tantos outros.

Mas, volta e meia, um bom diretor não consegue se desvencilhar de um roteiro ruim. E este filme, é um caso clássico.

"Além da Vida", traz três histórias, cujos personagens, de alguma forma, foram afetados pela morte.

Marie Lelay (Cécile de France), sobrevive a um Tsunami adrenalinesco e muito bem feito.

George (Matt Damon), fala com os mortos.

E Marcus (Frankie e George McLaren - as melhores expressões do filme), é um garoto tímido, que não só perdeu seu irmão gêmeo Jason, como foi afastado de sua mãe.

As histórias, logicamente, irão se cruzar.

E a câmera sempre segura, de Clint Eastwood, faz o tempo passar, contando com muita paciência, como isso ocorrerá.

Cabe ao espectador, retribuir com a mesma paciência.

"É uma moça, de capuz preto e uma foice..."

E é justamente aí, onde o filme se complica.

O filme vai intercalando trechos das histórias, para que, como se simultâneamente, acompanhássemos os personagens até o óbvio cruzamento.

E quando as histórias engrenam, pulamos para outra. E mais uns 20 minutos até ela voltar, não necessariamente onde parou. E começa tudo outra vez.

Essa falta de rítmo e o dramalhão, que consegue por pouco fugir da pieguiçe, faz com que "Além da Vida" não passe de um filme regular.

Não fala nada, e não conta uma história completa. Apenas trechos, sem clímax.

Há, no entanto, motivos que separam esse "Além da Vida" de um filme ruim. Clint Eastwood, é um deles, que não atua, mas dirige muito bem. A cena da cozinha, entre Matt Damon e Bryce Dallas Howard é o perfeito exemplo disso. A cena do Tsunami é outro.

E o fato de não apelar para nenhum tipo de mensagem religiosa, em qualquer nível.

Mas como ponto alto do filme (repito propositalmente), as interpretações dos gêmeos Frankie e George McLaren.

(Nota 7,0)

Trailer: