sexta-feira, 30 de julho de 2010

Felizes para Sempre

SHREK PARA SEMPRE
(Shrek Forever After; EUA, 2010)
Dir.: Mike Mitchell
Com as vozes de Mike Myers, Eddie Murphy, Cameron Diaz, Antonio Banderas
1h35min - Animação/Comédia - Livre




Todo bom piadista, termina seu show no ponto alto, com a melhor piada.

E toda boa piada, termina no ponto mais engraçado.

Se essa teoria é inquestionável, então, a saga de Shrek deveria ter sido encerrada com o segundo filme.

Mas isso não aconteceu. O terceiro filme, como um todo, não funcionou como deveria e a piada do Ogro pai, sai bem fraquinho.

Shrek, pela inovação, pelo contexto, pela identificação, pelos fiéis telespectadores e pelo o que ele se tornou, frente a indústria cinematográfica não merecia um final daqueles. E portanto, um quarto filme, era mais do que ordem.

Era imprescindível.

E então, voltamos às raízes. Ao ponto zero. O Ogro.

E o quarto providencial capítulo da Saga, traz a tona a velha máxima de que é preciso celebrar o que temos e jamais pensar no quão verde é a grama do vizinho: Cansado da sua nova rotina (bebes-casa-jantar), o protagonista faz um trato com Rumpelstiltskin (nanico, como o primeiro vilão, Lord Faarquad, mas com muito mais carisma), para ser um Ogro, como no início, por um dia. O vilão pede em troca um dia qualquer da vida de Shrek e este cai numa realidade alternativa, que se no início está tudo bem, no fim descobre que a sua própria existência está ameaçada...

...se não conseguir um beijo de sua amada Fiona até o raiar do dia seguinte.

"Um abraço... Pelos velhos tempos?"

E daí se as piadas não estão caprichadas como nos primeiros dois filmes? O filme aposta no sentimentalismo, admite a cara escrachada da série e se não tem gags tão inspiradas, traz um belos desfecho e não se restringe ao público adulto.

Mas, como todo Shrek, as melhores piadas estão com os coadjuvantes.

E felizmente, o dono da farra aqui, volta a ser o Burro.

Na verdade, o maior mérito do quarto filme, foi encerrar uma das maiores sagas animadas do cinema, com um começo diferente.

Nota: 7,5

Trailer:

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Novo Filme Velho

À PROVA DE MORTE
(Grindhouse presents: Death Proof; EUA, 2007)
Dir.: Quentin Tarantino
Com Kurt Russell, Zöe Bell, Rosario Dawson, Rose McGowan
1h54min - Terror - 16 Anos



O que eu tinha a dizer sobre o absurdo do atraso das distribuidoras em relação a este filme, já foi dito (post no Blog do Cinematico).

Agora vamos falar do que realmente interessa.

Originalmente concebido para ser a continuação de um "programa duplo" (a primeira parte seria "Planeta Terror", de Robert Rodriguez), "À Prova de Morte" traz a história de um Serial Killer chamando Stuntman Mike (Kurt Russell, no melhor papel de sua carreira), que oferece carona a mocinhas desacompanhadas e as envolve em acidentes de carro. O segredo, é que o assento do motorista é... A prova de morte.

Por ser a segunda parte do "programa duplo", as comparações com o primeiro filme seriam inevitáveis. E é justamente (e unicamente) este motivo que torna a separação saudável.

Planeta Terror é, em sua essencia, violência com diálogos espertos a tira-colo.

A Prova de Morte, diálogos excelentes com violência a tira-colo.

E isso faz a segunda parte, a melhor das duas.

"Que carrão bonito, hein?"

Se falarmos de atuações: O show é de Kurt Russell, mas ele não se importa nem um pouco de dar espaço para as atrizes do filme. É marca registrada de Tarantino, escrever mulheres de personalidades fortes. Zöe Bell, dublê profissional (foi dublê de Uma Thurman em Kill Bill, por exemplo), interpreta ela mesma e ainda consegue ser uma das personagens mais bacanas do filme.

A atuação de Russell, por sinal, merecia horas de discussão.

Se falarmos de roteiro: A história do filme é simples. Quase tosca. O que faz dela brilhante são os inspiradíssimos diálogos, que se no contexto, parecem rasos, para a história significam muito. Conhecemos os personagens através de suas futilidades.

Se falarmos de técnica: Há um acidente de carro na metade do filme, que não só choca, como quebra o ritmo da história. Propositalmente, é claro. E os últimos 15 minutos de filme trazem a melhor perseguição de carro ja feita no cinema (Matrix o quê?).

A verdade é que quando vista em conjunto com Planeta Terror, o conjunto valoriza. Separados, são dois filmes, digamos... Pitorescos.

Você pode reclamar dos (propositais) erros de edição, ou do abuso da violência em uma ou outra sequencia. Mas é preciso esclarecer que tudo isso é parte do charme da produção.

Se você reclamar do primeiro, pode ser que não tenha capturado o espírito da coisa. Se reclamar do segundo, definitivamente não faz parte do público-alvo de Grindhouse.

Mas, nem sempre pode-se agradar a todos.

Nota 9,0

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O Poder da Sugestão

ECLIPSE
(The Twilight Saga: Eclipse; EUA, 2010)
Dir.: David Slade
Com Robert Pattinson, Kirsten Stewart, Taylor Lautner, Dakota Fanning
2h04 min - Romance - 10 anos



Entendam. Eu jamais li uma página dos livros da saga.

Nunca me interessei.

Mas conheço muita gente que foi conquistado(a) pela história da adolescente que se vê dividida entre o amor de um vampiro e de um lobisomem. Cada um com suas particularidades. Você pode até argumentar que a história é muito mais do que isso. Eu vou contrariar. Você pode insistir. E eu manterei minha posição. Porque a essência das quatro histórias é o desenvolvimento desta premissa.

Portanto vou me ater a falar do filme, e jamais dos livros, pois os dois primeiros parágrafos deste post, seriam base para qualquer contra-argumento.

E no terceiro capítulo da história, vemos o casal Bella e Edward as voltas com um iminente ataque de vampiros organizado por Victoria, com o intuito de matar a mocinha, para vingar a perda de seu amor James (lá no primeiro filme). E com isso, a tribo dos Lobisomens, rivais dos vampiros que deverão formar uma aliança para proteger seu território.

Mas mais do que isso, proteger a mocinha, que (lembrando...) é disputada por um lobisomem e por um vampiro.

Parece muito vago, eu sei. E peço desculpas. O meu entendimento da saga é superficial demais para descrever mirabolantes sinopses... Sou aquele cara que só viu os filmes e não leu o "além-do-filme".

"É cara, você não brilha no sol..."

Ok. Em termos de cinema, nenhum dos dois primeiros filmes deram lá seu show de bola. Foram histórias competentes, matematicamente calculadas para arrancar suspiros do público feminino.

Tiram a camisa, brilham no sol, correm, beijam, e quase choram...

Neste terceiro episódio, é incorporado um elemento precioso, quase que ignorado nos dois filmes anteriores: O suspense.

Ta-ram!

Um filme de vampiros sem suspense? Talvez fosse esta a fórmula que fez de "Crepúsculo" e "Lua Nova" dois filmes na média. Ou talvez, também fosse isso.

Porque esperar grandes interpretações do elenco principal, seria, acima de tudo, "forçar a amizade".

É, portanto, o suspense. A fórmula "mágica" que faz de Eclipse, um filme bem melhor do que seus antecessores. Não espere também, um "Cabo-do-Medo-vampiresco-e-lobisomesco", mas dadas as devidas proporções, um elemento que adicionado a trama, deixou a trama um pouco mais interessante. Mesmo com a vilã Victoria (Bryce Dallas Howard, com uns 20 minutos de tempo de tela no total) decepcionando, o poder do filme está na sugestão de que coisas ruins irão acontecer.

E a fragilidade da mocinha, interpretação e personagem, potencializa o poder da sugestão.

Nota: 5,5

Trailer:

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Obrigado, Pixar!

A despedida de uma saga.

TOY STORY 3
(EUA, 2010)
Dir.: Lee Unkrich
Com as vozes de Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Michael Keaton
1h43 min - Animação/Comédia - Livre



Conheça seu público. Admire-o. E acima de tudo, respeite-o.

E a Pixar, que de boba não tem nada, leva muito a serio o seu público. Crianças? Não apenas. Ou talvez não mais. Crianças acompanharam o Toy Story original. Compraram muitos bonecos do Woody e de Buzz Lightyear.

Crianças gostam de "Monstros S.A.", de "Carros".

Ou não? Espere um pouco. Me confundi...

A Pixar conhece seu público. Ela nos admira (de volta) e acima de tudo, nos respeita. Sabe que não se trata apenas de crianças. É preciso entreter os pais, os acompanhantes e as crianças. As vezes até, necessariamente nesta ordem.

Ela entendeu que aqueles que foram surpreendidos em 1995, cresceram, amadureceram e tiveram novas ideias. Assim como Andy, o dono dos brinquedos mais famosos do cinema.

E aqui, Andy está indo para a faculdade. Já não brinca mais com bonequinhos. Estes, foram relegados a um baú, convivendo diariamente com a dor de não serem mais utilizados e com o medo de serem jogados no lixo.

E com desenvolturas que a Pixar está craque em criar, os brinquedos acabam parando numa creche, como doação. O que a princípio é maravilhoso (afinal de contas, são crianças que brincariam com eles todos os dias e que seriam renovadas a cada ano) se torna em terror, graças ao autoritarismo e ao (inacreditavel) sistema de corrupção e hierarquia de ferro implementada pelo vilão Lotso, um ursinho de pelúcia que tem, literalmente, apenas um visual amigável.

"Tá vendo aquele boneco ali? É brinquedo de menina..."

E como toda aventura deveria ser, o desenrolar da história captura facilmente a nossa atenção, com excelentes doses de humor, para aliviar o suspense e as cenas assustadoras (crianças desacompanhadas podem sofrer um bocado). Basta dizer que o plano e execução de fuga que os brinquedos promovem é espetacular.

O climax do filme é a cena mais surpreendente, chocante e apoteótica que eu vi em um filme de animação. Não posso dizer nada mais, para não lhe comprometer. Mas a sensação é genuína.

Assistir a saga Toy Story na telona, foi sem dúvida, algo indescritível. Algo que eu gostaria que meus filhos, netos e gerações adiante pudessem ter a mesma sensação que tive. Meus brinquedos poderiam (ainda que na minha imaginação) conversar comigo. Eles tinham vida própria, sentimentos e opiniões divergentes entre si. Eram pequenas unidades vivas, na prateleira de casa.

Conheça. Admire. Respeite.

Toy Story 3 não é exatamente, um filme para crianças. É uma grande piscada de olhos que a Pixar nos oferece, em reconhecimento pelos 15 anos que se passaram. Fomos fiéis, todos os anos, lotando cinemas para acompanhar o amadurecimento de ideias, de visuais e de contextos. Do lado deles, o cumprimento da promessa de nos oferecer qualidade e sem nunca nos subjulgar.

Por isso eu digo: Obrigado, Pixar!

Nota: 10

Trailer:


P.S.: Como de praxe, o curta exibido antes do filme é espetacular. E neste caso, com um óculos 3D fica ainda melhor.