quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Linha de Montagem

Nada em 2014, será tão divertido.

Uma Aventura Lego
(The Lego Movie; EUA, 2014)
Dir.: Phil Lord, Christopher Miller
Com as Vozes de Chris Pratt, Elizabeth Banks, Will Arnett, Morgan Freeman
1h40min - Aventura - Livre




Confesso que sou muito suspeito para falar desse filme. Sou aficcionado por Legos desde pequeno. E sou chato também. Manual de instruções, peças na mesa e, pacientemente, peça a peça, até o produto final montado. Ai sim, posso destruir e construir novas coisas. 

Mas o melhor do Lego, sempre foi a reutilização das peças para novas historias. Recriar. Inovar. E esse é o maior mérito do filme... De Lego. Utiliza a dinâmica do próprio brinquedo para transportar o espectador para diferentes lugares, conforme a aventura pede. 

E a aventura começa com Emmet. Um cara legal, que faz tudo através de um "manual de instruções" para começar o seu dia e seguir para o trabalho de construtor. Um dia se depara com uma estranha peça, caçada por um grupo de rebeldes que lutam contra o Senhor Negócios, homem poderoso que planeja colar todo o universo Lego, para que tudo fique como está. 

Mais Café!
Apesar do apelo infantil que a história, as cores e o próprio brinquedo possui, é preciso dizer que este filme não é somente para crianças. E poderia muito bem ser. Aliás, o filme poderia descambar para um grande comercial de duas horas, mais as favas de dinheiro gasta com os pequenos na loja de brinquedos mais próxima, após a sessão. O filme esta cheio de piadas para os pais e referências adultas. "Tempos Modernos", "1984", maquinas de votações e por aí vai... Mas calma. A criançada certamente vai se divertir com as sequências de ação e com as piadas de humor físico, mas o filme brilha quando fala com o público cativo de construtores de lego, sentados do lado de fora da tela. 

O que fica explícito no terceiro ato da história. Se esforçando ao máximo para não entregar nenhum spoiler, o filme toma um rumo ousado para transmitir uma mensagem poderosa aos espectadores, em especial aos pais, que se divertiram a beça até então. 

É como a experiência do próprio brinquedo. Você segue o manual de instruções e constrói o que comprou. E num segundo momento, arrisca e transforma tudo em algo ainda melhor. Basta ter a criatividade e a mente aberta. 




domingo, 16 de fevereiro de 2014

Virtuosa Virtualidade

Spike Jonze e o Amor

Ela
(Her; EUA, 2013)
Dir.: Spike Jonze
Com Joaquim Phoenix, Scarlett Johansson, Rooney Mara, Amy Adams
2h07 min - 14 Anos


Interessante observar as reações quando dizia às pessoas que "Ela", é um filme sobre um homem que se apaixona pelo sistema operacional do celular. Caras franzidas, espanto. A certeza de uma história estranha e que, talvez, forme um péssimo filme. 

Adianto que o filme não é somente sobre isso. Vai além. Vai além, inclusive do que o trailer parece entregar.

Não se atendo apenas ao tempo onde o filme se passa, a Los Angeles futurista do filme, se mostra fria, superpopulada por pessoas que se aglomeram, mas não interagem entre si. Todas, no entanto, munidas de um aparelho com as quais interagem, pedindo musicas, informações, ou até mesmo, ocasionalmente, conversando com outras pessoas através do acessório.

Futurista?

E é neste cenário, que conhecemos Theodore Twombly (Joaquim Phoenix) Um homem consumido pela tristeza do fim de um casamento. E em meio à essa melancolia, trabalha escrevendo cartões comemorativos de pessoas reais. Ele é capaz de simular diferentes formas de emoção, sem ao menos ter um contato mais profundo do que meras informações registradas em um banco de dados.

Portanto, se apaixonar por Samantha, um sistema operacional, que faz exatamente isso, não parece ser algo tão fora do comum. Ou parece?

"Fala que eu te escuto, Scarlett"
Em mãos menos habilidosas, talvez o filme perdesse impacto. Poderia ser inundado de clichês e momentos piegas. Mas a verdade é que Spike Jonze tece com (muita) qualidade, uma história de amor inusitada, induzindo a plateia a se esquecer que, no fim das contas, Samantha é apenas voz. Culpa também, da surpreendente interpretação de Scarlett Johansson.  

O filme também acerta quando fala da banalização do uso da tecnologia. É uma critica, bem disfarçada. As relações humanas se equiparam com à uma relação virtual e a relação de Theodore com a sua vizinha, Amy (Adams, pra variar, excelente), mostra bem isso. Você pode até torcer por uma relação entre os dois - até porque, fica explicita a importância do contato humano - mas a necessidade que Samantha tem de se desenvolver e de aprender o mundo humano é tamanha, que ao invés de causar espanto, causa empolgação aos protagonistas. 

E ao fim, quando subirem os créditos, um sentimento incomodo poderá tomar conta de você. Provavelmente o fim de uma história de amor, que tenha simulado uma ampla variedade de sentimentos entre um homem e uma mulher, mas sob a ótica de um homem e uma maquina. 



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O Lobo Enlouquecido

Scorcese exagerou um pouco.

O LOBO DE WALL STREET
(The Wolf of Wall Street; EUA 2013)
Dir.: Martin Scorcese
Com Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Kyle Chandler, Margot Robbie
3h00min - 18 Anos



Martin Scorcese é um mestre da sétima arte. E um mestre em retratar os vícios do homem na tela grande.

Dito isso, as três horas de "O Lobo de Wall Street", pode ser de grande alívio, quando se percebe que Scorcese, com esse filme, volta para o seu cinema "clássico". Suas histórias costumam a mostrar um mundo onde o homem não tem limites, onde a cobiça dita o caminho a seguir e que nada será obstáculo para o Nirvana. Seja ele como for.

Vimos isso em Cassino. E principalmente em "Os Bons Companheiros". Uma ascensão gradual, por parte de um protagonista ávido, altamente cativante e inteligente e os seus meandros para chegar em seu objetivo. E depois de determinado tempo, a rotina do objetivo alcançado, querer sempre mais, torna-se a ruína, e a consequente queda. É uma receita conhecida, que em boas mãos, tornam-se bons filmes.

Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio, na melhor atuação de sua carreira) trilha este caminho. Vai de um aspirante a especulador da bolsa de valores a multimilionário, graças à sua lábia e à influência de Mark Hanna (Matthew McCounaghey - numa participação breve e essencial para a trama). Sua vida de altos exageros chama a atenção dos federais, 


"Quem quer dinheiro?"
O filme se diferencia um pouco dos citados anteriormente, por buscar a satirização de uma vida sem limites, ao invés de colocá-la estritamente como meta. É um filme sobre crimes e pecados, mas sob a ótica do exagero, da extrapolação e principalmente, da banalização de tudo isso. 

O personagem de Jonah Hill é o perfeito exemplo: Seu Donnie Azeroff acaba por fazer as vezes do oposto ao protagonista. O homem que tem sonhos, aspira a coisas maiores, mas sem o conhecimento dos meios. Como reagir frente a um pagamento mensal de 72 mil dolares? Ao acesso ilimitado a drogas, mulheres e às mais diversas regalias? Ele seguirá Jordan até o fim. E eventualmente premiado por isso.

Mais adiante, o filme acaba por cair na repetição dos temas. A primeira metade do filme vem forte e prende o espectador com as possibilidades que Jordan cria para si (a cena com os especuladores de ações menores (pennystocks) é fantástica e mostra o que o peixe grande consegue fazer num lago pequeno. E de lá, o consequente e iminente vôo a maiores objetivos e conquistas. No entanto, a segunda metade - que fala sobre a queda e onde Scorcese costuma a exercer a sua maestria - fica repetitiva e até um tanto previsível (mesmo que você, como eu, não tenha prévio conhecimento da história de Jordan Belfort). 

Daqui a alguns anos, "Lobo" deverá ser relacionado numa breve seleção de filmes de Scorcese, pela capacidade que o diretor tem de infiltrar humor ácido em situações tensas. É uma incursão válida. Pode não ser o melhor, mas, vez ou outra, um mestre como ele tem o direito de exagerar na dose.