domingo, 16 de fevereiro de 2014

Virtuosa Virtualidade

Spike Jonze e o Amor

Ela
(Her; EUA, 2013)
Dir.: Spike Jonze
Com Joaquim Phoenix, Scarlett Johansson, Rooney Mara, Amy Adams
2h07 min - 14 Anos


Interessante observar as reações quando dizia às pessoas que "Ela", é um filme sobre um homem que se apaixona pelo sistema operacional do celular. Caras franzidas, espanto. A certeza de uma história estranha e que, talvez, forme um péssimo filme. 

Adianto que o filme não é somente sobre isso. Vai além. Vai além, inclusive do que o trailer parece entregar.

Não se atendo apenas ao tempo onde o filme se passa, a Los Angeles futurista do filme, se mostra fria, superpopulada por pessoas que se aglomeram, mas não interagem entre si. Todas, no entanto, munidas de um aparelho com as quais interagem, pedindo musicas, informações, ou até mesmo, ocasionalmente, conversando com outras pessoas através do acessório.

Futurista?

E é neste cenário, que conhecemos Theodore Twombly (Joaquim Phoenix) Um homem consumido pela tristeza do fim de um casamento. E em meio à essa melancolia, trabalha escrevendo cartões comemorativos de pessoas reais. Ele é capaz de simular diferentes formas de emoção, sem ao menos ter um contato mais profundo do que meras informações registradas em um banco de dados.

Portanto, se apaixonar por Samantha, um sistema operacional, que faz exatamente isso, não parece ser algo tão fora do comum. Ou parece?

"Fala que eu te escuto, Scarlett"
Em mãos menos habilidosas, talvez o filme perdesse impacto. Poderia ser inundado de clichês e momentos piegas. Mas a verdade é que Spike Jonze tece com (muita) qualidade, uma história de amor inusitada, induzindo a plateia a se esquecer que, no fim das contas, Samantha é apenas voz. Culpa também, da surpreendente interpretação de Scarlett Johansson.  

O filme também acerta quando fala da banalização do uso da tecnologia. É uma critica, bem disfarçada. As relações humanas se equiparam com à uma relação virtual e a relação de Theodore com a sua vizinha, Amy (Adams, pra variar, excelente), mostra bem isso. Você pode até torcer por uma relação entre os dois - até porque, fica explicita a importância do contato humano - mas a necessidade que Samantha tem de se desenvolver e de aprender o mundo humano é tamanha, que ao invés de causar espanto, causa empolgação aos protagonistas. 

E ao fim, quando subirem os créditos, um sentimento incomodo poderá tomar conta de você. Provavelmente o fim de uma história de amor, que tenha simulado uma ampla variedade de sentimentos entre um homem e uma mulher, mas sob a ótica de um homem e uma maquina. 



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