segunda-feira, 28 de julho de 2008

Mundo Bizarro

Uma das franquias mais cultuadas dos anos 90 está de volta de forma moderada
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ARQUIVO X - EU QUERO ACREDITAR
(The X-Files - I Want to Believe)
Dir.: Chris Carter
Com David Duchovny, Gillian Anderson, Amanda Peet, Billy Connolly
1h 42 min - Suspense - 12 Anos
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Sextas a noite. Lá pelas 20hs começava um episódio inédito de Arquivo X. Nunca fui um fã assíduo da série, mas de vez em quando, em meio ao zapear de canais, eu topava com uma boa história mas algo completamente fora do normal. De invasão de baratas até alienígenas e conspirações, temas que gosto de ver, mas nada que me fizesse sentar religiosamente para assistir. Entre temporadas, em 98, o primeiro filme. Um bom filme por sinal. Não era preciso saber muito sobre o passado dos investigadores ou ter assistido às temporadas para entender e acompanhar o desenvolvimento da trama. Público e crítica responderam bem. Em 2002, o fim da série. E agora, 6 anos depois, o revival dos personagens.
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A trama começa com o sumiço de algumas mulheres no estado de Virgínia, nos EUA. Uma delas detetive do FBI. Um padre que clama ter visões está auxiliando do caso e em meio às desconfianças, a agência resolve tirar o agente Fox Mulder do ostracismo. Mas ele precisa de sua inseparável parceira para resolver a situação. O problema, é que Dana Scully não quer mais reaver suas aventuras do passado e se dedicar apenas à sua carreira de médica.
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"Mulder, só você acredita tanto assim..."

Um amigo meu me perguntou, fazendo alusão ao título do filme se eu queria e se eu tinha conseguido acreditar no filme. Respondi dizendo que queria, mas que poderia ter acreditado mais. Talvez o fã crônico do seriado saia desapontado do cinema. Eu como um frequentador mediano achei que foi um episódio longo e light da série. Sem ETs. Sem conspirações. Uma trama policial, que caberia a um filme diferente do gênero. Mas como os detetives são Mulder e Scully, algumas liberdades parecem ter sido tomadas. O diretor, no entanto, respeita os fãs (em meio a uma ou outra surpresa que podem decepcionar): Não enrola para desenvolver a história e o lado distorcido do mundo está presente, graças ao vilão estranho e seu propósito bizarro. O suspense é bom, mas a sensação é que poderia ser um tanto mais caprichado. Talvez sua impressão ao sair do filme seja inversamente proporcional à sua expectativa e ao quão fã da série você seja. Ou como meu amigo colocou: O quanto você quer acreditar?

(Nota 7,0)

Trailer:

segunda-feira, 21 de julho de 2008

A Reinvenção do Caos

O filme que o Coringa roubou.

BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS
(The Dark Knight; EUA, 2008)
Dir.: Christopher Nolan
Com Christian Bale, Heath Ledger, Aaron Eckhart, Michael Caine, Gary Oldman
2h32 Min - Ação - 12 Anos
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No caminho de volta para casa, estava tentando entender porque eu gosto de cinema. Uma das características que consegui encontrar para essa minha paixão é a capacidade de se reinventar que o cinema tem. É claro que um filme como "O Poderoso Chefão" pode ser refilmado, mas jamais terá o impacto do original. Mas o gênero pode ser reinventado. Temos exemplares como "O Gângster" e "Estrada Para Perdição" para provar. E na nova verve do cinema - os quadrinhos - uma reinvenção era apenas questão de tempo. Em 2005, um dos heróis mais queridos ganhou uma roupagem nova (e impressionante), redefinindo o gênero e agora, ganha uma sequência que se não reinventa novamente, eleva o nível.
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Conforme fomos deixados na espectativa ao final de Batman Begins, o Coringa (Heath Ledger, indescritível) orquestra um série de atentados à população de Gotham City com o simples pretexto de espalhar o caos e de ter como única exigência a revelação da verdadeira identidade de Batman. Isso quebra a ordem que a parceria entre Batman, o Tenente Gordon (Gary Oldman) e o promotor Harvey Dent conseguiram quando resolveram enfrentar os criminosos e prenderam um a um. O desenvolvimento impecável da trama se segue até os embates de um dos antagonismos mais clássicos da história dos quadrinhos. Falar além disso seria estragar uma das melhores sessões de cinema até agora.
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"Roubei seu filme, Batman!!!"
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Se Heath Ledger nunca havia entregue uma atuação sólida, seu Coringa é impressionante. Um produto do caos, como ele mesmo afirma no filme. Se Batman ganhou seriedade no seu filme-origem, aqui ele ganha uma dimensão de herói. Se Batman Begins era o melhor filme de super-heróis até então, ele acaba de perder o posto. "O Cavaleiro das Trevas" é um filme sombrio, (muito) violento, insano e surpreendente. Tudo aqui é para fazer o espectador sentir o medo que o cidadão de Gotham sente e temer pela vida do próprio Batman. Mas o dono do filme é mesmo Heath Ledger. É claro a dedicação e o mergulho na vida deste memorável personagem que o ator fez. Um trabalho digno de premiações (infelizmente póstumas). Um vilão para entrar para a história do cinema. Anárquico, engraçado, sombrio, Ledger põe em seu vilão duas características que todo bom vilão deve ter: A capacidade de fazer com que os espectadores vibrem toda vez que ele está em cena e a sensação paralela de medo na mesma situação.
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Portanto, se você é da turma adepta do "Soc! Tum! Pow!", pode ser que a versão de Tim Burton lhe faça melhor. Não caia na tentação de comparar os dois Coringas. Jack Nicholson (que também rouba a cena de Batman no primeiro filme) fez um vilão para os moldes e para a cultura dos anos 80. E o novo Batman faz o mesmo para um mundo que teme pela violência e pelo seu futuro. É o cinema reinventado. E porque eu gosto tanto de cinema.
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(Nota 10,0)
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Trailer:

segunda-feira, 7 de julho de 2008

O Bom, o Mau e o Gordo

A febre de programas e produtos sobre a China ganha sua versão mais divertida com esta animação para todos os públicos

KUNG-FU PANDA
(Kung Fu Panda)
Dir.: Mark Osborne, John Stevenson
Com as vozes (dubladas) de Lucio Mauro Filho, Juliana Paes. (Legendado) Jack Black, Dustin Hoffman e Angelina Jolie
1h32 min - Animação/Comédia - Livre

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Depois de anos consolidada no mercado de animação, a Disney (e a Pixar) ganharam um concorrente de peso nas férias escolares desde Julho/99. A Dreamworks inaugurou sua divisão de animação com um dos personagens mais queridos dos ultimos tempos: Shrek. Desde então, em cada férias de meio de ano, somos brindados com duas animações. Quase que lançadas simultaneamente e impossível de não serem comparadas. Mas vou resistir à tentação (e à minha ideia original) e me ater somente a Kung-Fu Panda.
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A história começa com Po. Um carismático Panda que sonha em ser um guerreiro, mas se atém à loja de sopas de seu "pai". Um belo dia, o ancião e líder dos cinco furiosos (os guardiões do vilarejo onde Po vive) escolherá o Dragão Guerreiro, uma espécie de guardião supremo para proteger os habitantes de Tai Lung, um Tigre que ameaça a paz local por sua força e alta capacidade de destruição. Po, que é indicado como candidato à vaga, passará por um rígido treinamento para realizar seu maior sonho.
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"Skadoosh!"

É um daqueles típicos filmes onde crianças e adultos se divertirão sem compromisso. As piadas funcionam facilmente para todos os publicos e as risadas fluem quase que naturalmente. Com um personagem carismático como o Panda é colocado, ficou difícil para os roteiristas não se apoiarem nas inevitáveis piadas sobre obesidade. Isso não atrapalha o andamento da história (para as sequencias dos treinamentos e para a batalha final, funcionam muito bem), e Po acaba se tornando um personagem acima do nível dentre as animações da Dreamworks. Só é uma pena que os demais personagens não tenham sido tão bem trabalhados. Poderia ter incrementado uma história que acabou ficando como mais um filme de animação, sem muito destaque. De qualquer forma, um programa típico das férias.

(Nota 8,0)

Trailer:

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Um Filme Universal

Mestre na arte de se reinventar, a Pixar entrega o melhor filme de seu currículo.
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WALL-E
(Wall-E)
Dir.: Andrew Stanton
Vozes de Ben Burtt, Jeff Garlin, Sigourney Weaver
1h38 min - Animação/Comédia - Livre
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Algumas vezes, temos a sorte de nos deparar com um filme atemporal. Verdadeiras poesias, impressas em celulóide. Filmes que conseguem falar com qualquer geração, sem precisar depender de fatos para satirizar ou conceitos para se apoiar. E filmes completamente surpreendentes, dos quais são impossíveis de desagradar até o mais crítico dos olhares. Este ano, este filme se chama "Wall-E".
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Se Wall-E fosse um ser humano, ele seria Woody Allen. Como ele não tem um vocabulário extenso para se expressar, ele acaba sendo Charlie Chaplin. E ele está sozinho no planeta. Uma Terra deixada pelos humanos há 700 anos atrás devido à enorme quantidade de lixo produzida. Encarregados de tornar o planeta habitável, os "Wall-E" (Waste Allocation Load Lifter, Earth Class - em portugues algo como compactadores de lixo, classe Terra) são deixados para cumprir sua missão, mas apenas um deles sobrevive e acaba desenvolvendo uma personalidade, fruto de sua curiosidade por objetos peculiares que encontra entre os detritos. Até que um dia, uma nave chega do espaço e dela sai EVA (Examinadora de Vegetação Alienígena) por quem Wall-E desenvolve... Amor. E isso o fará ir até os confins do espaço (mais precisamente uma outra nave, Axiom, uma espécie de cruzeiro, eterno onde se encontram os humanos), para ficar junto de seu novo amor.
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"Come Fly with me/let´s fly/let´s fly away..."
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Não consigo encontrar uma palavra que consiga descrever "Wall-E". Talvez o mais próximo delas seria algo em torno de "Brilhante". É de fato um filme atemporal. Tem inúmeras referências ao cinema clássico e principalmente aos filmes de ficção científica (que variam de Fuga do Século 23, passando por Star Wars até 2001 - Uma Odisséia no Espaço). Não precisa fazer apelações para rir. Opta por utilizar um humor mais inteligente. O pequeno robô, dono de um carisma inacreditável, nos remete diretamente aos personagens mais clássicos de Chaplin. Seu humor é puramente físico, graças à sua profunda curiosidade e a certeza de seguir seus instintos. Ele é o personagen título, dono do filme e não se apoia em coadjuvantes para fazer rir. Ele se porta como a estrela maior.
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O filme é pura poesia. Hilário, irreverente, crítico (dentre tantas que faz, a mais sagaz dela é sobre sedentarismo), sensível. "Wall-E" é um verdadeiro clássico, dentre tantos filmes que almejam isso. Mas acima de tudo, é um filme necessário. O grande filme a ser batido em 2008.
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(Nota 10,0)
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Trailer:
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Obs.: A Pixar sempre nos brinda com excelentes curtas-metragens antes da exibição principal. Por favor, cheguem um pouco mais cedo no cinema para assistir a "Presto". Só mesmo uma exibição como "Wall-E" para vir a seguir.