segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Caos em São Paulo

Meirelles choca a platéia... de novo.
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ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
(Blindness; CAN/BRA/JAP, 2008)
Dir.: Fernando Meirelles
Com Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Gael Garcia Bernal, Danny Glover
2h00 min - Drama - 16 Anos
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Ligar o computador, acessar o site, ler a crítica. Checar e-mail. Dirigir até o trabalho. Comer. Esta crítica até poderia começar a falar da importância da visão no dia-a-dia. Poderia citar exemplo de deficientes visuais que superaram obstáculos e venceram. Mas neste filme, o foco não deve ser este. Não pode ser. Não é mais um filme sobre a desconstrução do relacionamento humano, ou sobre vencer a vida. É um retrato cru do caos, da tirania e da (porque não?) esperança. Com uma São Paulo caótica de fundo e com atores internacionais estrelando uma história que não necessita nem de nomes para seus personagens.
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O filme começa com um cidadão ficando cego. Uma cegueira onde se vê tudo branco. E todos aqueles que entram em contato com eles também perdem a visão. Logo, uma epidemia que instala o pânico generalizado e força o governo a tomar medidas drásticas e isolar os contaminados. E no isolamento, são abandonados à sua própria sorte, com superlotação, comida escassa e sem quaisquer condições mínimas de higiene. O problema é que lá dentro, um grupo resolve controlar a distribuição de alimentos e esse desequilíbrio na "democracia" faça tiranos de uns e vítimas de outros. A vantagem das vítimas é justamente a personagem de Julianne Moore, a única que consegue ver.
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"Agora não amorzinho... não consigo dormir..."

Dizer que Meirelles é um diretor (muito, mas muito mesmo) acima de sua geração não é mais uma constatação assustadora. E nesta adaptação do premiado livro de José Saramago, a história não é diferente. Apoiado na câmera inquieta de César Charlone e na edição fantástica de Daniel Resende, o filme prende até mesmo o espectador mais incrédulo na cadeira, em especial, durante a sequência do isolamento dos cegos. E falar que sua capacidade de analisar minuciosamente os personagens e os ambientes só faz com que o filme fique mais rico e intrigante. Não é para os estômagos mais fracos, devido às cenas (fortes) de violência, estupro e das situações extremistas pelas quais os personagens passam ao longo do filme. As atuações, inspiradas ajudam a desenvolver o clima apocalíptico da trama. E destaque para Gael Garcia Bernal, como o "Rei da Ala 3". Tecnicamente, um filme perfeito. Em termos de história e de ritimo, o filme pode até pecar em alguns pontos, mas nada afeta a capacidade de Meirelles em contar uma história crua e sem restrições. É cinema de primeira qualidade. Com um brasileiro no comando.

Nota 8,5
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Trailer:

2 comentários:

Anônimo disse...

Caramba!
Fiquei com vontade de ver... mais ainda...

Muito bom esse site!

Parabéns

Leonardo Maturana disse...

Tah certo, um cometário um tanto quanto atrasado, mas anted tarde do que nunca.
Na verdade seria só uma ressalva. Vc disse que se passa em SP a estória. Mas se repararmos bem, há uma tentativa do Meirelles de desterritorializar o filme. Ele começa com um oriental e a "presidente" tb é oriental. A maioria dos carros não tem placas do Brasil. Ele mescla modelos populares brazucas com modelos que nem vendem no país. Atores latinos. Nos carros da policia não está escrito nem em portugues nem em ingles. Os guardas escutam música mexicana, no rádio falam em portugues de portugal e o filme é falado em inglês. Achei demais isso.

Tah bem massa o blog!!
Abraços
Leo